Duas coisas que incomodam. Para dar mais luz ao que não precisa, oficialmente.

sábado, 10 de julho de 2010

Carta sem fôlego

Gertrudes, ontem eu te vi indo pra roça. Eu queria te dizer que o que eu queria era que tu quisesse, mas não deu. Eu fico olhando esse teu cabelo despenteado lá de cima da escada, enquanto tu fazes o pão. A minha vontade era me jogar de barriga no ladrilho de parquet, mas não dá. O Jorge, o Alceu e aquele ridículo de nome estranho, que eu nem quero mais lembrar, me mostraram que não é assim que as coisas funcionam e o que eu menos quero é que tu fiques com mais nojo de mim do que já tem. Se tu não me admiras, pelo menos simpático eu posso ser.

E essas bruxas na lâmpada que ficam batendo no vidro pensando que isso é toda a vida? Eu sei que tu estás carente, mulher, mas não te entregues, por favor, dessa maneira, a não ser que seja nos meus braços. Mas não dá, eu sei.

Sabias que o Tovar me disse que tu és a coisa mais horrível que ele já viu? Eu deveria concordar (e confesso que até fiz um esforço - essa tua ceroula atolada e esse teu buço de égua são horrosos), mas não dá. Cada vez que eu olho pra esse teu rosto risonho eu fico me perguntando onde tu estavas até agora que eu não tinha te visto. Acho que bem embaixo do meu nariz, pois fiquei sabendo que tu vendias coisas na minha janela e eu não abri a porta.

Mas viu, Gers... Eu tô indo embora. Não sei como, nem quando, mas eu quero e vou. Vai ver demore mais uns dois anos depois da facada, como foi com o outro aquele que eu disse antes. Mas tudo bem, enquanto isso eu fico te vendo lá de cima e fingindo que eu não te amo. Eu não me importo.

Beijos,
Genival

P.S.: Deixei o dinheiro das cucas em cima da geladeira.